24 In Estilo de Vida

Como eu fiquei mais de 1 ano sem comprar roupas?

Fiquei 1 ano sem comprar roupas e não sai por aí pelada, viu? Olha que eu nunca tive um closet abarrotado de roupas e sapatos. Mas, em um certo momento da minha vida eu fiz esse propósito e aprendi muitas coisas.

Gosto de contar que eu venho de uma família humilde, sofri muito bullying por não ter roupa, tênis, cadernos e etc… O bullying só não doía mais do que a falta, as vezes, da comida.

Consequência disso, minha auto estima nunca foi das melhores e minha visão do TER era associada a SER alguém mais bem vista, mais querida e mais aceita, com mais amigos.

Entre 2009 e 2010 minha vida passou por grandes mudanças e eu estava vivendo o luto do meu Pai e o aprendizado de toda uma fase de batalha pela vida e resgate dos laços familiares.

A situação financeira em casa havia melhorado, saímos do aluguel, eu estava trabalhando, entrei numa boa faculdade como bolsista e estava recebendo novas referências de vida.

Com novos ambientes, vieram novas cobranças (internas e externas) de adaptação, aceitação e, novamente, a sensação de SER menos que os outros.

Nesse novo cenário, uma encarada de cima a baixo fazia eu me sentir feia, pequena e pobre. De novo a sensação de não ser aceita e o bullying que rola solto nas empresas e faculdades, igual era na 5º série!

Foi aqui que eu tive minha fase Becky Bloom de Confessions of a Shopaholic, tive meu primeiro (e único) cartão da C&A com R$ 100 de limite e que, na época, dava pra fazer a festa com R$ 100!

Gastava como forma de preencher um vazio, me sentir aceita como parte de um grupo e não ser mais a menina pobre que usava roupas doadas de menino.

Isso não aumentou a minha auto estima, só aumentou minha cobrança interna, sofri, me endividei e por dentro eu ainda era a mesma menina favelada que se sentia menos do que os outros.

Em 2011, terminei um relação abusiva e violenta – com uma pessoa toda estudada, que zombava do meu “vender o almoço pra comer na janta”, mas todo mundo dizia ser um bom rapaz de futuro e que eu que não era boa o suficiente (olha o que a baixa auto estima me fez passar!).

Mas, 2011 foi o ano que eu caí na real e percebi que mais do que TER eu preciso SER! Nesse ano, pra organizar minha vida, comecei a exercer o consumo consciente e construir meu estilo de vida baseado nos meus valores.

Desde então tenho trabalhado minha auto-estima, conheci o minimalismo e mais recentemente a simplicidade voluntária.

Tudo isso me fez entender que para ficar 1 ano (pelo menos) sem compras eu precisava resgatar coisas de dentro de mim, entender meu estilo pessoal e principalmente as necessidades da minha vida.

Foi dessa etapa nebulosa que eu comecei a entender o que se tornaria meu lema: “mais caráter que roupa e mais atitude que riqueza”.

Já em 2012, com a vida financeira em ordem eu pude comprar as roupas que precisava para completar meu armário.

Fiz uma limpeza, arrumei o que tinha e vi o que precisava realmente.

Doei muitas roupas que não falavam nada sobre o meu estilo pessoal e não eram adequadas para minha vida, mas estavam boas para o uso.

começou a parte difícil: quando eu via algo lindo que poderia comprar, mas não precisava!

Com as contas em dia, eu sempre tinha uma sobra ali no banco, mas eu não precisava de nada. Com isso vem um pensamento sabotador, o merecimento: “Eu mereço. Eu trabalho tanto, as contas estão em dia e o preço tá tão bom…”

Esse pensamento ainda bate aqui, viu? Mas, minha forma de lidar com ele é: tendo um objetivo!

Comecei nesse ano, a construir objetivos de vida que eu nem sabia que seriam possíveis para mim. Em 2013 meu objetivo era viver esses sonhos.

Teve festa, viagem e muito perrengue para realizar meus sonhos sem nenhuma ajuda.

Ter um objetivo real para meu dinheiro é muito mais satisfatório do que comprar roupas ou qualquer outra coisa, mas exige dedicação e foco.

Posso dizer que desde 2013 eu não comprei mais roupas como forma de preencher nada, sigo com as finanças organizadas, realizei sonhos que eu nem sabia que poderia ter.

Aprendi a me vestir melhor com as roupas que tenho – não andei pelada e fui aumentando a quantidade de peças de acordo com a necessidade.

Hoje quando preciso comprar roupas eu faço consciente de que roupa não dá sentido à vida 🙂

[Tweet “roupa não dá sentido à vida :)”]

Já parou pra pensar que aquele curso de inglês, a reforma da casa ou até a entrada de um carro pode começar com a simples decisão de não comprar roupas (ou coisas) que você não precisa?

Minhas motivações depois de 2013 foram: viagens, uma casa, carro, minha mãe, poder dar suporte as causas que eu acredito…

Cada dia a motivação se renova, mesmo quando bate aquela vontadinha de comprar algo desnecessário eu penso 2 vezes e na 3º eu já desisto.

Se tornou meu estilo de vida, não é um projeto que vai acabar e eu voltar a ser como era.

Hoje eu compro menos, mas compro melhor. Compro roupas de maior qualidade, escolho peças que tem a ver com meu estilo e estou cada dia mais apaixonada pelas roupas que tenho 🙂

Se você está pensando em ficar um ano sem compras, tem muito post aqui que pode te ajudar a usar melhor as roupas que tem, dá uma olhada:

Mesmo vindo de uma realidade diferente, a Daniela Kopsch do Less is the New Black e a Jo Moura do Um Ano Sem Zara fizeram esse um ano sem compras. As duas se tornaram blogueiras de moda famosas por esse projeto, vale a pena conhecê-las.

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24 Comments

  • Reply
    Marina
    novembro 4, 2016 at 10:31 am

    Oi Lis,
    Adorei seu texto. Vim conhecer seu blog e me deparei com tanta coisa boa, sincera e verdadeira! Me identifico com muito do que contou e tenho tentando consumir menos e melhor. E achei tão delicado e emocionante o relato sobre sua mãe.
    Eu confesso que acho muito difícil ficar sem compras, mesmo sabendo que não preciso de nada. Mas pelo fato de trabalhar com moda estou vendo toda hora vitrines e sempre tenho desejos consumistas.
    Lá se vão quase 2 meses sem comprar roupas, sapatos, acessórios. Foi muito difícil!!! Espero conseguir mais tempo e recuperar a saúde financeira, ter equilíbrio e me relacionar de forma saudável com dinheiro e com consumo. Ser é melhor que ter e também muito melhor do que apenas parecer não é?
    Vou continuar acompanhando seu blog e buscando inspiração! Um beijo!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:21 pm

      Marina, que prazer ter você aqui!
      Te desejo muito foco nessa busca 🙂 se precisar pode contar comigo!

  • Reply
    Daniele Garcia Costa
    novembro 4, 2016 at 10:32 am

    Elisângela, cheguei aqui através do Em busca de um armário-capsula… e já amei o seu blog e a sua história de vida… posso dizer que me identifico mil % com ele e também estou em busca de algo além de simplesmente TER as coisas e também estou cansada dessa sociedade capitalista que traduz o sucesso em possuir cada vez mais e que se importa cada vez menos com o mal que causamos a nós mesmo e ao nosso planeta… Vou te visitar muito por aqui para ter mais inspirações e reflexões boas para o meu longo caminho de desapego… Obrigada por compartilhar sua vida conosco!!!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:22 pm

      Daniele, eu fico emocionada com esse tipo de retorno!
      Me abrir aqui é uma forma de me curar e deixar fluir tudo o que penso.
      Um beijo,

  • Reply
    Verônica Penha
    novembro 4, 2016 at 10:32 am

    Olá Lis! Encontrei seu blog procurando pelo tal armário capsula e me identifiquei muito com suas idéias. No meu caso quando eu era mais nova minha mão não podia me comprar todas as roupas da moda e eu sempre me sentia excluida por isso. Me lembro de tingir roupas para renová-las e poder ter sempre “peças novas”. Depois que comecei a trabalhar isso se perdeu e eu me perdi nos gastos e compras de fast fashion. Hoje, aos quase 30 estou percebendo que isso não leva a nada e que não consigo realizar outros sonhos por conta de consumismo compulsivo. Antes tarde do que nunca, né? Você ganhou uma leitora!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:23 pm

      Verõnica, passei muito por esse sentimento de exclusão!
      Aos quase 30 é que a gente começa a viver lindona, venha sempre conversar por aqui!

  • Reply
    Lucia
    novembro 4, 2016 at 10:33 am

    Cheguei aqui e amei!!! Desde o início do mês, resolvi que ficarei um ano sem comprar nada de que eu, realmente, não precise. Organizei os armários e me deparei com várias camisas de marca ainda com a etiqueta! Eu sou camisófila. Tenho tantas camisas, que poderia ficar cinco anos sem comprar… Estou decidida a revigorar a minha vida financeira.
    Se fui fumante durante anos e parei de fumar, sem ajuda e sem estresse, por que não conseguiria parar de comprar tanto?
    Estou decidida.
    Obrigada por compartilhar a sua história conosco.

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:24 pm

      Lucia, você está certíssima! Você pode tudo o que se propor com o coração!
      <3 um beijo!

  • Reply
    Tatiane Nege
    novembro 4, 2016 at 10:34 am

    Lis, adorei seu texto. Muito rica sua experiência e nobre sua vontade de compartilhá-la com pessoas q, como eu, sofrem com dividas por causa da autoestima…sinto q começarei a seguir seu blog!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:24 pm

      Tatiane, não estamos sozinhas nesse mundo!
      Venha sempre papear!

  • Reply
    Julia
    novembro 4, 2016 at 10:34 am

    Através de uma brincadeira com amigas encontrei o seu site – em um grupo uma amiga postou procurando no google “como comprar roupa sem gastar dinheir”. Eu joguei no Google, mais por curiosidade mesmo, e depois de algumas mudanças de palavras achei o seu blog. Gostei muito do seu artigo acima! Estou numa fase parecida, querendo redescobrir o meu estilo sem me entupir com coisas desnecessárias. Está de parabéns!!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:25 pm

      Julia, que bom que me achou no Google 🙂 vai com fé que você vai encontrar seu caminho!

  • Reply
    Paula
    novembro 4, 2016 at 10:34 am

    Que forma maravilhosa de pensar! Me inspirou. Obrigada!

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:25 pm

      Ai que gostoso saber que inspirei alguém <3

  • Reply
    simonecris87
    novembro 4, 2016 at 10:35 am

    Amei seu blog, me identifiquei muito, pois sei exatamente como é passar por alguns dos relatos.
    E para alegrar a vida o corpo não ajuda, baixinha e de baixa estima sofre…
    Obrigada por dividir sua história, sinal que um dia chego lá rs..

    Parabéns..

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:26 pm

      Simone, vamos aumentando nossa auto estima com o tempo, paciência e muito amor <3
      Ser baixinha, altinha, ser você é lindo! <3

  • Reply
    Elenir
    novembro 4, 2016 at 10:36 am

    Estou precisando fazer um ano sem compras, tenho um objetivo específico para o dinheiro economizado, será que eu consigo?

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:27 pm

      Elenir, desejo que você alcance esse seu objetivo do fundo do meu coração!

  • Reply
    Bianca
    novembro 4, 2016 at 10:36 am

    Menina que história linda! Me vi em vários trechos da sua narrativa, infância pobre, fome, roupas doadas, autoestima baixa e consumismo como forma de se sentir melhor. Ontem (20/10/16) depois de mais uma comprinha desnecessária decidi ficar um ano sem comprar roupas, sapatos e acessórios (já fiz isso antes por 6 meses). Procurando inpiração no google achei sua história logo no topo e vou usar como inspiração pra aguentar o que vem por aí. Obg por compartilhar sua experiência. Bjo

    • Reply
      Lis
      novembro 7, 2016 at 2:28 pm

      Bianca, foco nos seus objetivos! <3 Nós conseguimos superar tudo, eu creio!

  • Reply
    Camila
    novembro 19, 2016 at 3:26 pm

    Lis, tbm me comprometo a realizar esse desafio, gostaria de saber, quais foram as roupas coringas que você comprou antes de iniciar? Beijos e Parabéns!!

    • Reply
      Lis
      novembro 21, 2016 at 8:43 am

      Camila, parabéns pela iniciativa eu te apoio!
      Vou escrever um post sobre isso, quando escrever te mando um email avisando <3 prometo que vai ser muito em breve.
      Beijo,
      Lis

  • Reply
    Flávia França
    novembro 29, 2016 at 6:17 pm

    Meu objetivo de vida é ser consciente de mim mesma, sem interferências externas. Muito bonita a sua trajetória, apesar de difícil.

    Infelizmente, ainda encontramos muitas mulheres reféns de relacionamentos abusivos, da sociedade opressora, dos tabus saciais, e do temor em se desafiar. Não é fácil transformar a vida de dentro pra fora, não é fácil ajustar as ideias, não é fácil remodelar os sentimentos, mas como vimos no texto, é possível!

    Tenho apenas 22 anos, e já passei por um período de transformação similar ao seu. No meu caso, encontrei o parceiro ideal, companheiro, e que me motiva sempre. O que mudou na minha vida? Meu ciclo social!

    Nos mudamos para outro estado, totalmente desconhecido, então tive que recomeçar e construir novas amizades. Dessa vez, selecionadas de acordo com os meus princípios, que foram lapidados enquanto eu não me sentia à vontade com o novo endereço. Com esse tempo só meu, fui capaz de entender os meus gostos, valores, conceitos e passei a viver mais consciente. Hoje, penso, pesquiso e procuro valor nas coisas, seja nas peças de roupas, na feira da semana, no barzinho, no passeio…

    Lis, teu texto é inspirador pra mim e me motiva a continuar em busca da minha essência, parabéns!

    • Reply
      Lis
      dezembro 6, 2016 at 9:27 am

      Flávia que delícia conhecer sua história!
      Fico muito feliz de te motivar 🙂 siga esse caminho lindo do auto conhecimento, se com 22 sua cabeça já está assim em pouco tempo você domina o mundo <3

      Um beijo!

    Let's talk!