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Como saber o que é certo e o que é errado?

https://www.youtube.com/watch?v=ZEsuT36TSwg

Nesses tempos de valores morais e éticos flexíveis e questionáveis eu tenho pensado muito sobre como saber o que é certo ou errado. Qual o juiz interno que determina o que fazer ou não, onde e o que eu devo flexibilizar?

Eu acredito que meu caráter é formado por minhas constatações interiores, aprendizados e pelo que absorvo do meio e das pessoas com quem eu vivo. Meu modo de pensar e agir foi construído ao longo da minha vida e é um eterno trabalho inacabado.

Somos assim, vivemos as mesmas condições, situações e tendo a mesma rede de relacionamentos, mas cada um tira pra si e vê o que pode e o que lhe apetece, não é?
Há quem só veja o mal por não conhecer o que é mal de verdade, há quem só veja o bem porque deseja só ver o bem.

Mas, tem uma coisinha que nos diferencia nos momentos cruciais da vida, quando temos que escolher entre o certo e o errado.

Eu sei que o CERTO ou o ERRADO não é um conceito imutável e comum à todos. Esses conceitos podem mudar de acordo com a cultura, religião, crenças e até a criação familiar que uma pessoa teve. Esses conceitos também podem mudar por coisas racionais, como nossas escolhas ou emocionais como maturidade, a capacidade de resiliência e superação que cada um tem ou não.

Dito isso, eu fico mais tranquila em falar do que me ajuda a saber o que é certo e o que é errado.

Eu acredito que existe uma bússula interna que TODO MUNDO tem. O mundo está esse pantano nebuloso de mau caratismo, maldade e destruição por quê poucas pessoas usam.

Tem gente que chama essa bússula de Deus, Espírito Santo, feeling, intuição… Eu chamo de Grilo Falante!

Como saber o que é certo e o que é errado

O meu Grilo Falante usa uma afirmação do filósofo alemão Immanuel Kant quando precisa me guiar para saber o que é certo e o que é errado:

“Tudo que não puder contar como fez, não faça!”

Trocando pelo Cristianismo “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” quando o Grilo Falante quer me lembrar da minha base espiritual e do bom uso do livre harbítrio.

Esse vídeo que destaquei aqui fala uma coisa que ajudou muito a formar o meu caráter. A noção de envergonhar a quem eu admiro, minha mãe e meu pai, especialmente.

Eu lembro que eu era uma criança virada no capeta e fazia coisas inimagináveis. A vida pobre me deu muita liberdade desde cedo, na minha quebrada ou você se vira ou te viram do avesso.

Uma vez eu estava numa baladinha matinê e fui fumar um cigarro no banheiro, escondido, com uma colega… Eu tinha uns 10 anos de idade gente! Sim, precoce! Estava experimentando e o que aconteceu? Nos acharam e como sempre fui daquelas que enfrenta as merdas que faz eu não fugi. Fiquei, assumi e ainda bati boca, falei pra uma das moças que estavam me dando um sermão: vocês não são minha mãe!

Aí duas meninas mais velhas decidiram me levar pra casa, pra contar pra minha mãe o que eu havia feito.

[A tal matinê era no meu bairro e todo mundo se conhece na quebrada ou conhece alguém da família. Aprendi cedo que o mundo é um ovinho de codorna!]

Quando estávamos na minha rua, minha mãe vinha descendo para ir à missa. Meu coração doeu, o olho marejou e porque? Minha mãe nunca me bateu, não lembro nem dos merecidos chinelos voadores. Nunca fui punida com violência ou injustamente, minha mãe tem uma severidade cheia de amor que é própria da Dona Helenice.

Meu pai era mais bravo e exigente, mas não agressivo. O alcoolismo que fazia ele violento, nunca uma bronca ou repreensão.

Quando eu fazia merda minha mãe não falava pro meu Pai quando ele estava bêbado. Em geral, as broncas do meu Pai em mim, era em casa, pelo que ele me via fazendo ali no convívio. Coisas “da rua” era mamãe mesmo que cuidava, junto com a Kelly e o Carlinhos, meus irmãos mais velhos.

Então por que eu fiquei tão impactada? Por que não fui bocuda, como sempre, e peitei como faria em outras situações?

Eu peitava minha mãe e meu pai com medinho, mas desde criança. Defendia minhas opiniões com uma força quase brutal, mas naquela ocasião tinha uma única coisinha que me impedia de fazer isso.

Foi assim que conheci meu Grilo Falante, a minha bússula interior: um sentimento de vergonha por decepcionar minha mãe, uma coisa estranha no peito, uma consciência nascendo no forcêps…

Naquele dia, minha mãe foi forte como sempre. Agradeceu as meninas, me mandou pra casa e disse que conversaríamos depois com um olhar de decepção, dureza e vergonha. Sem raiva, sem nervoso, sem agressividade, só aquele olhar…

Aí eu cheguei em casa e vi um bilhete escrito por ela: “Tata, fui pra missa, tem janta no fogão.”
Essas palavras tão simples tinham tanto significado e força, que você não imaginam o quanto me afetou. Era um esforço da minha mãe em escrever vencendo suas limtações, pra cozinhar e pensar em mim, mesmo eu estando na baladinha fazendo merda e, possivelmente, naquele domingo meu pai bêbado, a vida difícil e etc…

Como saber o que é certo e o que é errado

Eu caí num choro, era tanto arrependimento, tanta vergonha, chorei de soluçar, sozinha, sem nenhuma palmada ou bronca.

Quando minha mãe chegou só recebeu meu pedido de desculpas e mandou eu arrumar alguma coisa na casinha simples de taco de madeira. Lembro disso com tanta clareza, lembro da minha sensação de vergonha ao ver minha mãe, da dor de decepcionar alguém tão bom pra mim.

Foi nessa experiência que eu entendi que fazer o certo ou o errado é uma escolha pessoal, mas que sempre tem consequências que afetam aqueles que convivem comigo e, se me amam, vai doer neles.

Vocês acham que depois do episódio do cigarro eu me tornei uma criança exemplar? Filha irrepreensível de Dona Helenice e Seu Luis?
Of course que not!

Vieram tantos outros episódios, tantas coisas que tentei esconder da minha mãe e só fui contar anos depois. O primeiro baseado, as “amizades” erradas, as aulas matadas, um crush, um negócio mal feito e tantas outras coisas…

Ah, mas hoje você parou de errar Lis?
Of course que not!
Como saber o que é certo e o que é errado

Estamos aí acho que errando um pouquinho menos a cada um dos 30 anos vividos. Mas, ainda errando.

Hoje antes de fazer alguma coisa, eu penso se estou disposta a lidar ou não com as consequências daquilo. Ainda me pergunto se eu posso ir correndo contar isso pra minha mãe. Se meu Pai estivesse aqui ele se orgulharia de mim? Eu teria vergonha de falar disso na mesa de domingo com a Isa no colo?

Esses são meus parâmetros…

Hoje, meus erros não são mais molecagem, coisa de quem quer conhecer novas coisas sabem? Agora eu erro como gente grande, é uma sociedade mal escolhida, um dinheiro desperdiçado, uma briga irresponsável… As consequências e os erros crescem com a gente e não dá nem pra colocar a culpa na imaturidade ou na vontade de experimentar mesmo.

Como eu disse, fui precoce, aos 11 anos comecei a trabalhar e ganhar meu dinheirinho, mas não foi isso que me fez amadurecer. Eu amadureci a partir da minha decisão pessoal de fazer o que era certo e o que me orgulharia por dentro e por fora.

Não tenho uma vida irrepreensível, mas dos meus 15 anos (mais ou menos) em diante eu decidi fazer cada vez mais o que é certo e menos o que é errado. Baseada nos meus valores pessoais não voltei mais atrás.

Como sei que não voltei mais atrás?

Minha bússula interna, a medição do meu orgulho em contar os caminhos da minha vida, o quanto eu consigo manter a cabeça erguida quando falo das minhas escolhas.

Claro que eu posso sempre usar o auto-engano se eu quiser. Mas, escrevo esse texto com minha mãe dormindo aqui na minha frente. Acabamos de almoçar falando da minha infância e adolescência, do meu Pai e dos conselhos que ele me daria no meu momento atual.

Sabe o que ela me disse?

“Você sempre foi terrível, pro bem e pro mal, aprontou mais que seus irmãos. A mais nova e que fez mais estripulia, deu mais trabalho e sempre foi diferente dos outros. Quando você se emendou na vida foi de vez e não voltou mais. Ainda é a diferente dos outros e é a rapa do tacho que se remendou sozinha. Você precisa continuar com a cabeça boa e não se importar com as pessoas, os outros só fazem o que querem e você sabendo o que você quer só precisa andar no caminho certo.”

Precisei parar e escrever por que não quero esquecer do dia de hoje, nem dessas palavras. Nem de nenhum dos questionamentos que a vida me trouxe até aqui e nem de como eu lidei com eles.

Não quero que o auto-engano e o desejo de seguir o caminho mais fácil me vençam, nunca.

Sou grata pelo amor justo dos meus Pais, pela bondade e sabedoria da minha mãe, pelas exigências e condições do amor do meu Pai. Por eles nunca terem passado a mão na minha cabeça e terem me ensinado cedo que tudo me é licíto, mas nem tudo me convém. Por terem me permitido errar em coisas que não trariam grandes consequências na minha vida e terem me parado quando foi preciso. Isso me ensinou o que é amor de verdade e que ele não é cego, sabe bem o que é certo e errado.

E você? Qual é a sua bússula para saber o que é certo e o que é errado?

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1 Comment

  • Reply
    Cristina Perdigão
    junho 27, 2021 at 11:57 pm

    Minha bússola para saber o que é certo e o que é errado é a palavra de Deus. Nela eu encontro a disciplina porque ela é boa para ensinar e repreender.

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