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Livro | Como ser uma Parisiense em qualquer lugar do mundo?

Sabe aquele livro bobinho, que a gente lê quando não quer pensar em nada?

Comprei o “Como ser uma Parisiense em qualquer lugar do mundo” para me desligar das lógicas e processos de TI.

Funcionou! Eita livro besta Ô! 😀

Exagera no estereótipo, fala de uma mulher desligada do mundo por fora, mas por dentro um tanto neurótica.

Poucos trechos são razoáveis, mas ainda questionáveis:

“Ser feminista e adorar ser cortejada não é necessariamente contraditório, muito pelo contrário. Prestar atenção, esforçar-se: não é assim tão difícil e faz muita diferença. Que alegria, um pouco de graça e atenção nesse mundo de brutos! Ao cultivar seu cavalheirismo, o homem torna-se mais homem e a mulher, mais mulher.”

 Sobre a “tensão” da independência da mulher com seu amado:

 “Ajude-o a entender que você precisa dele. Sim, você sabe abrir uma garrafa de Bordeaux sozinha. Mas deixe que ele abra. A igualdade entre os sexos também passa por aí.”

Acho OK esse modo de pensar. Gosto que abram a porta do carro, carreguem sacola pesada, abram potes de vidro, entre outras coisas. Gosto também que saibam e, eu sei, que posso fazer tudo isso sozinha.

Gostar de ser “cortejada” não limita a mulher a ser uma bonequinha de luxo. A verdade é que comportamento é pessoal e intransferível, o ideal é não julgar nem padronizar, pra ninguém!

Esteriótipos e imagem são muito superficiais para julgar ou definir uma pessoa.

Analisa algumas verdades a meu respeito e reflita nos esteriótipos que elas te trazem a mente:

Sou mulher, da periferia, filha de retirantes semi-analfabetos. Que esteriótipo essa introduação real da minha vida te passa?

Me maquio todo dia, faço look do dia e falo de moda num bloguinho na internet. Certeza que agora você pensou em outro esteriótipo. 

Levanto 5 horas da manhã pra encarar o busão até o trabalho, trabalho desde os 11 anos e sou independente desde os 16. Agora parece que sou outra pessoa, não?

Entendem?

Reforçar esteriótipos só cria padrões que não se encaixam na realidade.

O “menos pior” é que o livro se foca nos clichês das relações entre homem e mulher, tá? Mas, se entrar em outras searas o livro mais reforça esteriótipos negativos para as mulheres do que outra coisa.

Tenho muito a aprender sobre o feminismo, mas penso que generalizar e forçar a mão em qualquer estereótipo é criar mais preconceito, mais padrões e mais dificuldade na vida das mulheres.

É aqui que o livro erra, ele força a barra no estereótipo da mulher perfeita, louca e linda!

O livro passa a ideia de que a mulher “perfeita” para nosso século é a Parisiense. A que não se cobra por levar o filho pequeno ao bar só para curtir a vida ou que não aceita homens que “copiem” o prato que ela pede no primeiro encontro por achar ele submisso. Ou seja, uma mulher politicamente incorreta, que é doida pra ter um companheiro perfeito, mas que segue sendo inatingível e dona de um perfeito mundo ilusório.

Mas, então o livro é bom ou ruim?

É bom quando ele fala de moda, dicas de vestir, comidas, sobre a cultura de Paris e em trechos que são equilibrados. Mas, é péssimo porque prega um estereótipo, um padrão inatingível e irreal – pra não dizer ridículo.

Peguei um trecho do blog da Lola, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC, feminista e blogueira que diz:

“é primordial que passemos a buscar maneiras de incentivarmos umas às outras coisas maiores que somente nossa aparência, e principalmente pararmos de julgar umas às outras baseadas nela.”

Penso exatamente assim, tento trabalhar meu feminino como forma de satisfação pessoal, nunca de julgamento ou exclusão porque eu sou boni-ta-ta e você não é-é!

O livro força muito a imagem de como a Parisiense se preocupa com o manequim, com a roupa, com a amiga que não sabe usar um mix de estampas. Mas, fala isso como se a tal Parisiense o fizesse sem esforço, sem maldade, sem sofrimento. Vem cá, na vida real, eu sei e te digo: essa preocupação (quando desequilibrada) NUNCA é sem sofrimento, seu ou de alguém!

Sou a favor da reafirmação do estilo pessoal, da nossa essência. Não prego nem busco um padrão, mas sim, o conhecimento de si mesmo, aceitação e auto-melhoramento para uma vida mais feliz, mais leve.

O livro fala que a Parisiense é “mandona e cheia de opiniões, mas também meiga e romântica”. Romantizando o que é próprio do nosso lado humano, não?

Pra quê endeusar um padrão se podemos nos mudar a cada dia e ser cada vez melhores?

No final das contas, não quero ser uma Parisiense, quero ser a minha melhor versão!

 Texto originalmente publicado em Janeiro de 2015.

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9 Comments

  • Reply
    Aline Zambon
    janeiro 29, 2015 at 8:27 pm

    É… um livro “bestinha” como você disse logo lá o começo Lis.
    Penso que independente do sexo, homem, mulher, nós somos seres humanos que estamos passiveis de sentimentos, emoções, distrações e que como qualquer pessoa gostamos de sermos “cortejados” pois entendemos assim uma forma de carinho e de cuidado. Penso que para ser admirada, independente, e até mesmo interessante pouco importa o estereotipo que você veste. Uma mulher indigena, filha de retirantes, semi analfabetos consegue sim mostrar a classe que uma “parisiense” estereotipada tem.

    Beijos,
    adoro o jeito como você escreve e se relaciona com suas leitora!

  • Reply
    Ilka Cabral
    janeiro 29, 2015 at 8:30 pm

    Nossa, como você escreve bem! *—* Eu gostaria de ter a mesma paciência, não consigo ler livros 🙁 Eu tenho muitos problemas com concentração também. E acho um dom, saber falar e sentir o que o livro passa! Aaah, acho lindo os casais que se tratam assim, com muito respeito …abrir a porta do carro hoje em dia quase não existe mais, e é uma pena…porque toda mulher gosta de ser cortejada!

  • Reply
    Mayara Pereira
    janeiro 30, 2015 at 2:47 am

    Deu pra notar que tu tem uma personalidade bem forte, também sou dessas :3
    Concordo com a sua opinião em relação ao livro, também acho que não temos que ter padrões.
    Você é TI né? Acho massa ^^
    Bjbj ;*

    • Reply
      Elisangela Silva
      fevereiro 13, 2015 at 10:20 am

      May, sou de TI sim 🙂 trabalho como consultora há 5 anos.

  • Reply
    Daniela Santos
    janeiro 30, 2015 at 3:31 pm

    OI amore tudo bem? ainda não conhecia este livro, mas pela sua resenha percebi que o livro idealiza uma mulher que pro nosso cotidiano é bem complicado de ser… um padrão bem irreal pra muitas de nós. Parabéns pela sua escrita… muito boa, eu não sou muito boa nisso… hahahaha preciso melhorar… um bjo amore…. ♥

  • Reply
    claudia
    janeiro 30, 2015 at 3:51 pm

    concordo completamente com você, me identifico muito quando fala de deixar o homem fazer as coisas mais másculas rs, faço o mesmo, e podemos muito bem fazer tudo isso com certeza, verdade sobre nossa vida não ser como as fotos do insta rsrs, também gravo vídeos, faço look, me maquio, me cuido, mais acordo super cedo pra encarar a realidade fora daquilo que mostramos! adorei a escrita!! um super beijo

  • Reply
    Camila
    fevereiro 4, 2015 at 12:24 am

    Também tenho opinião e personalidade fortes…nem sei se isso é bom, de vez em quando. 🙁
    Dá um pulo lá no meu cantinho, tá? 😉
    Beijooo!
    Instagram: tamiya343 e Twitter: @cat_343
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